Contagem Regressiva

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Jeep&Boddy 2 Aprendizagem difícil. 1979

Hoje pode-se dizer que minha capota é perfeita. Mas nem sempre foi assim. Em 1979, numa das minhas aventuras mais arrojadas até então realizada, fui passar as férias de verão em Bombinhas, litoral de Santa Catarina. Mas havia um probleminha para resolver. Meu jeep continuava sem uma capota decente, embora muitas tentativas tivessem sido feitas para provê-lo de tal artefato, todas resultando em fracassos. Sabendo que chovia muito no litoral e já sem tempo, simplesmente tomei “emprestado” uma cortina da minha mãe e improvisei uma cobertura. Só que eu não sabia de duas “propriedades” daquele tecido. Era de trama crua de algodão natural feito artesanalmente ou seja, permeável vazando mais que defesa de time de várzea, e que tinha uma tintura de urucum solúvel em água.
      Na santa ignorância destes fatos, fui descendo rumo ao paraíso tropical. Mas como não poderia ser diferente, o Sr. Murphy me aguardava no meio do caminho. Poderosa chuva torrencial desabou sobre o pobre mortal motorista.
       Era um processo muito bem sincronizado. Nas duas primeiras balançadas o tecido encharcava. Na terceira, toda água recolhida vazava para dentro da cabine polvilhando tudo. E a seqüência se repetia religiosamente, duas não, uma sim, duas não, uma sim.
Era tanta água no interior que seriam necessários três limpadores de para brisa, para que eu pudesse enxergar a estrada. Um para a parte externa do vidro, um para a parte interna e outro para os meus óculos.
      Mas o pior ainda estava por vir. Eu estava sendo tingido de urucum sem saber. Quando entrei na lanchonete do primeiro posto de gasolina para me secar, senti que havia algo de estranho no ar, porque fez-se um silêncio mortal embora estivessem muitas pessoas alí . No banheiro tomei um susto ao me olhar no espelho. Do outro lado havia simplesmente um índio caraíba cor de framboesa me fitando.  Tive que olhar novamente para me convencer que era eu mesmo. Bem, ao menos eram meus óculos e meu grande nariz italiano, o resto eu não reconhecia.  Para meu desespero descobri que aquela maldita tinta só saía fácil da cortina, porque da minha pele não. E agora? Tentei aquele sabãozinho gosmento de banheiro público e nada. Aí vi um pouco de água sanitária num dos cantos. Experimentei com o mesmo resultado de antes, ou seja nada, exceto que minha mão ficou mais vermelha ainda e ardendo. Nessa altura só uma cara de pau imensa me salvaria daquele vexame. Saí dali direto pro balcão e encarei o rapazinho que atendia. Levantei a palma da mão num gesto característico de saudação indígena e resmunguei sério:
- “ huga buga!”
Em seguida gesticulando apontei para uma garrafa qualquer da prateleira e tornei a resmungar:
- “Hummm ahhh ! Hummm ahhh!”
fazendo a maior cara feia possível.
Peguei a garrafa, joguei o dinheiro sobre o balcão, pulei no jeep e sumi na estrada.
       Naquele verão não precisei me bronzear. Só tomava banho de lua, isto é, só saía à noite. Na verdade só me tornei branco novamente quatro meses após o episódio.
      Bem, ao menos aprendi algumas coisas importantes. Cortina não serve de capota, sabão gosminha só tem efeito psicológico, cara de pau ajuda na hora do aperto, água sanitária arde e tinta de urucum gruda feito carrapato.
                                                                                 

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