Contagem Regressiva

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Jeep&Boddy em "Quando o amor quase acaba 1982" parte II

Você já conseguiu dar um vergonhoso tropeção e não ser visto por ninguém? Pois é. Com jeep alagado também é assim. O vexame é garantido. Dos dois lados da rua apareceram expectadores da desgraça em todas as malditas janelas. Aí tentei um acordo amigável com o jeep. Olhei pro painel e falei baixinho;
-  Olha. Se você voltar a funcionar direitinho, e a gente sair daqui sem dar espetáculo gratuito, amanhã levo você ao posto de gasolina, para um banho e troca de óleo. Gasolina de primeira com aditivo e um dia inteiro de folga para você ir a praia se bronzear e ver as Belinas passarem de biquíni !
       Dito isso, dei a partida quase confiante. Afinal eu tinha um jeep quase guerreiro, quase valente, quase intrépido, com tração só em duas rodas, com potência reduzida e pneus tímidos.
      Inhéim,  inhéim,  inhéim, inhém . . . quem não conhece aquele ruído típico do motor dizendo, não vou pegar, não vou pegar? Tentei outra manobra. Feito um malabarista dei um jeito de sair do banco do motorista passando para o para lama para não ter que sapatear no alagado, abri o capô e tentei secar a distribuição. Nova partida e outra vez aquele inhéim . . . inhém, agora cada vez mais espaçado, mostrando claramente que a carga da bateria se esvaía inexoravelmente e com ela a minha paciência e confiança.
      - “Escute aqui seu josta! Vê se pega. Se não, amanhã te vendo por qualquer preço que me oferecerem”-
      Inhém ...(três segundos) inhém ... (cinco segundo) ... in ... dez segundos e nem completou  héim .
      - “Ah é? Tava querendo me ver molhado e passando vexame? Então aproveita porque é a última vez que você me sacaneia!”      
 Dito isso, literalmente mergulhei naquela água lamacenta. Para minha felicidade, como eu tinha pulado em pé o lodo só chegou até os joelhos.
      Apanhei minha mochila meu violão e abandonei aquela lata velha. Mas como diz o ditado (e os malditos nunca falham), miséria pouca é bobagem. Recomeçou a chover forte. Não dei a menor importância ao fato e saí já no escuro tocando e cantando “ How many roads must a man walk down, before they call him a man? . . . ( song by Bob Dylan). Mas ai, foi a vez do meu violão não dar a mínima para minha situação ou composições de protesto Bob dylianas, e tóing! O cavalete molhado desgruda do corpo da viola sob a tensão de seis cordas, de forma violenta e atingindo meus dedos da mão esquerda. Foi o limite para os meus já diluídos neurônios. O primeiro poste que apareceu na minha frente recebeu os golpes daquilo que um dia tinha sido um instrumento musical, agora transformado em machado. Juro que se o tal poste não fosse de concreto, por certo teria sido decepado, causando um black out na região. 
      Quando cheguei finalmente na casa do tio Ito e bati na porta, vi estampada em sua face, a real expressão de espanto.
-  ‘Nossa! O que é isso?” -
       Não sei se ele se referia ao que sobrara do machado, digo violão, que por razão desconhecida ainda permanecia preso em minha mão, ou se à figura patética e molhada em que eu me transformara.

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