Contagem Regressiva

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Jeep&Boddy em "Quando o amor quase acaba 1982" parte I

     
Como nada é perfeito neste mundo, eu e meu jeep já tivemos nossas briguinhas. Isto foi em fevereiro de 1982. Eu detesto carnaval, e naquela ocasião morava em pleno centro de Curitiba, e consequentemente no centro do “fervo”. E só suportei o massacre batuquista durante a  madrugada de sexta feira porque seria impossível tirar meu carro da garagem e passar pela avenida que havia sido interditada para aquele episódio grotesco. (que me desculpem os carnavalescos, mas gosto é gosto, e cada um tem o seu). Mas na manhã seguinte, antes que o sol nascesse e os bêbados abandonassem a avenida, lá estava eu e meu inseparável Happy Car, com violão e barraca no bagageiro, deslizando serra abaixo em direção ao litoral paranaense.
      Quando estava ainda em meio da serra, iniciou tremendo temporal, que não aliviou nem quando atingi a planície. Mas eu estava confiante, afinal, eu tinha um jipe guerreiro, valente, intrépido, com tração nas 4 rodas, com reduzida e pneus  agressivos. Não havia nada a temer.
      Ao chegar ao primeiro balneário, chamado Praia de Leste, lembrei que meu tio Ito, uma figura muito querida, tinha casa de veraneio naquele local. Será que ele não estaria passando alguns dias ali? Resolvi visitá-lo.
      O acesso principal era feito por uma antiga ponte de madeira, mas assim que entrei no balneário, dei com uma imensa área alagada. Tudo bem. Afinal eu tinha um jeep guerreiro, valente, intrépido, com tração nas quatro rodas, com reduzida e pneus agressivos . . . eu estava confiante.
      Parei para analisar a situação. Um imenso alagado, e o para-peito da ponte aparecendo sobre a água. Mas e a ponte estaria lá? Resolvi arriscar. Afinal . . . eu tinha um jeep guerreiro, valente, intrépido, com tração nas quatro rodas,  com reduzida e pneus agressivos. Eu estava confiante.
      A ponte realmente ainda estava lá, mas o aterro da cabeceira tinha desaparecido, levado pela enxurrada, ficando no seu lugar uma enorme cratera de quase um metro de profundidade e vergonhosamente escondida sob a água só para apanhar meu jipinho. Quando atingimos o outro lado da ponte, o jipe mergulhou naquele medonho buraco, fazendo com que a onda formada viesse a cobrir o capô e batesse no para brisa. No susto, acelerei, o que fez o veículo dar um salto à frente, mas só o suficiente para se livrar do infame buraco e vir à tona, já com dois cilindros falhando. O ruído do motor mudou imediatamente, parecendo uma máquina de cortar grama com tuberculose acrescida de febre aftosa. Olhei para à frente e vi que ainda tínhamos mais dois quarteirões alagados para vencer. Mas tudo bem. O jeep tinha provado que era guerreiro, valente, intrépido, com tração nas quatro rodas, com reduzida e pneus agressivos. Eu estava quase confiante.
       Fomos em frente apesar da visível perda de potência do motor.  Mas aí descobrimos que havia um complô contra nós. Outro buraco levemente maior que o anterior nos aguardava odiosamente escondido nas profundezas. Quando o mergulho se repetiu os dois pistões que ainda funcionavam sucumbiram por afogamento. A água não invadiu somente o motor. Levou também de roldão minha fé no guerreiro, valente, intrépido, com tração nas quatro rodas, reduzida e pneus agressivos. Eu estava desolado. E não era só isso. A água invadira o interior do jeep e meu traseiro estava dentro dela.

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