Viajar de jeep pelos países das Américas não é nenhuma novidade, o que se descobre facilmente. Mas quase sempre ela ocorre em veículos 4X4 novinhos em folha, reluzentes, pelas principais rodovias e contando com tudo que a tecnologia automotiva moderna pode oferecer como ar condicionado, trio elétrico, air bag, freio ABS, high lifth, e outras maravilhas high tec.
Bem, convenhamos que assim fica muito fácil, e por certo, tira um pouco, se não muito, do espírito de aventura o que aliás, é exatamente o que identifica o jeep.
Mas é outra conversa fazer 3.400 km por estradas secundárias, muitas vezes não pavimentadas, com jeeps primitivos das décadas de 40 e 50, portanto com mais de 50 anos de existência, pouco modificados. Isto sim é aventura.
Considero ainda, maior aventura, quando a viagem é realizada com poucos recursos disponíveis. Sou fã e leitor de Amir Klink, nosso grande navegador, mas quando comparo a primeira viagem que ele fez remando através do Atlântico, com sua estada de um ano ancorado do pólo Sul, acho que a primeira foi infinitamente mais aventura que a segunda. Na primeira ele lutou com poucos recursos, 100 dias contra as dificuldades e os elementos naturais. Na segunda teve que lutar contra o . . . tédio !
Recentemente li uma reportagem de três moleques que saíram de Belo horizonte, ora navegando por rios, ora caminhando, e chegaram meses depois no litoral do Piauí, seu destino final. O mais incrível é que na partida dispunham somente de três caiaques que eles mesmos tinham construído, um para quedas para servir de barraca, uma panela, R$ 35,00, e um cachorro. Esta sim foi uma aventura que me deixou pasmo e me causa admiração até hoje. Convés ressaltar que o cachorro jamais chegou a ser cogitado como possível alimento numa eventual emergência.
Muitos me perguntam – “por que não ir de avião?” “por que ir nesta coisa desconfortável chamada jeep?’ Para a primeira pergunta respondo: “ ir de avião é como entrar num restaurante de luxo, ler o cardápio com aqueles pratos maravilhosos e em seguida pagar uma conta salgada, sem ter comido absolutamente nada. Você deixou o principal de fora.
Para a segunda pergunta, respondo “Jeep é liberdade, principalmente quando você viaja com a capota arriada. Num carro convencional ficamos encapsulados e vedados. É como assistir um filme. Você vê, mas não participa. No jeep você é o protagonista principal. De jeep vive-se a paisagem por onde ele passa. E sendo um veículo lento, permite que você possa observar muito mais ao que acontece a seu redor.
Para aqueles que são ansiosos em chegar, e que passam pelas estradas com velocidade acima dos 120 km por hora, eu pergunto; para que acumular tanto estresse? E o que fazer com aquela hora a mais que vai sobrar por ter chegado antes? Gastá-la para tentar controlar a ansiedade gerada pela correria?
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